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quarta-feira, 30 de junho de 2010

Gritos do Silêncio

 
O filme “Gritos do Silêncio”, ao retratar a guerra do Camboja, que teve início nos primeiros anos da década de 70, mostra também a realidade dos jornalistas que são designados pelos veículos de comunicação onde trabalham para cobrirem os fatos que envolvem a guerra. A obra é baseada em fatos reais e em meio ao conflito, conta a história de Syd Schanberg (Sam Waterston), repórter norte-americano do jornal The New York Times, enviado ao Camboja para acompanhar os acontecimentos.

Logo que chega em terras vietnamitas, o jornalista encontra o intérprete (e também repórter) Dith Pran (Haing S. Ngor), além de jornalistas que vieram de outros países com o mesmo objetivo de Syd. O dia-a-dia deles no Camboja permite que o público entenda algumas das características da cobertura de um evento internacional. Através do personagem Syd, pode-se perceber a importância de o jornalista acompanhar os fatos de perto, afinal, existem informações, dados e fotografias que só podem ser obtidos por quem está no local, vivenciando tudo. É notável o esforço do personagem Syd em estar sempre próximo ao lugar onde a notícia acontece e isso remete a outro fator importante da cobertura internacional, assim como do jornalismo em si: é preciso ter conhecimento e sensibilidade para decidir o que é notícia e o que interessa. A diferença é que, estando em outro país e, principalmente, em meio a uma guerra, sem uma equipe de apoio, tudo se torna mais difícil.

Outra característica do jornalismo internacional é a falta de recursos. Justamente por estar longe da redação ou ambiente de trabalho, o repórter, muitas vezes, precisa improvisar e lidar com a precariedade de recursos, seja para apurar informações, redigir uma matéria ou envia-la para o veículo. Podemos notar isso na cena em que Syd está concluindo uma de suas matérias e a eletricidade acaba. Na época, era utilizada a máquina de escrever, ou seja, o problema não era relacionado ao funcionamento de um computador, mas sim ao fato de que a falta de luz caracteriza a precariedade do local. Isso, sem contar os bombardeios (constantes em uma zona de conflito) que muitas vezes danificavam o Telex, antigo sistema internacional de comunicações escritas, atrasando o envio dos textos para o Times, nos Estados Unidos. É claro que deve-se levar em consideração que o filme retrata a década de 70, quando não tínhamos a facilidade que a internet proporciona hoje. Ainda assim, de certa forma, a falta de recursos ou a dificuldade de se chegar a eles fazem parte da realidade atual de um enviado especial, principalmente se estiver em um país marcado pela pobreza, como o Camboja.


Além de correr muitos riscos em uma zona de guerra, o repórter tem dificuldade em obter e apurar informações. No filme, vemos que a população local é uma boa fonte de informação em meio à guerra ou pelo menos pode auxiliar o jornalista a chegar até a informação. O profissional lida com uma realidade difícil ao conviver com mortes, feridos e pessoas em desespero por terem perdido suas famílias ou suas casas. Além disso, precisa lidar com a hostilidade de grupos como o Khmer Vermelho (no caso do filme), grupo revolucionário que tentava implantar um novo regime na região, e até com a morte de colegas da imprensa. Ainda assim, o filme acha espaço para retratar o lado “humano” dos personagens, a união e a amizade entre eles, no caso de Syd e Dith e até dos outros jornalistas que viviam a mesma rotina difícil da cobertura de guerra.


Qualificação do jornalista internacional
Por ser uma área que abrange diversos temas, exige do repórter conhecimento de cultura geral e, principalmente, de política e economia internacional. O profissional precisa saber e acompanhar os principais acontecimentos do mundo e, como complemento, conhecer a história desses eventos. Dominar dois ou mais idiomas é um requisito fundamental.


Por Camila Batista, Eliandra Lopes, Kamila Johann e Tatiana Prisco Nassr

Política

Eleições deste ano serão marcadas pelo uso da internet

 Quando se fala em campanha eleitoral na internet todos lembram do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que conquistou muitos dos seus eleitores em função do marketing político realizado em ambiente virtual. Essa estratégia não é novidade, porém, este ano, o uso da internet, não só para divulgação de candidaturas, mas também como instrumento de fiscalização do trabalho dos políticos, está dentro dos planos da maioria dos candidatos e dos órgãos eleitorais.

Propaganda
            A propaganda na internet é um complemento importante à campanha eleitoral e permite que o candidato aproxime-se mais do eleitor. De acordo com o publicitário Roger Frainer, a internet é um canal de participação e interação, que é tão eficaz como qualquer outro meio de comunicação de massa, porém, com suas especificidades. A propaganda na web tem que ser utilizada a partir do que o consumidor espera quando está no ambiente virtual, ou seja, é preciso levar em consideração que, na internet, o eleitor, no caso, tem desejos diferentes do que quando está assistindo à televisão. “A internet é um ambiente aberto, onde é o usuário que decide o que vai ver. Não há como colocar um VT de 30 segundos de propaganda eleitoral que foi rodado na televisão e achar que o internauta vai se interessar. Ele vai ver o que quer. Ele vê isso na televisão porque é obrigado, o VT interrompe o programa que ele está assistindo. Na internet, isso não acontece”, explica. Porém, a Lei das Eleições impõe algumas regras para a divulgação na web.
            A partir do dia seis de julho a propaganda eleitoral está liberada em qualquer meio. Quem desrespeitar essa data está sujeito a aplicação de multa, que varia de 5 mil a 30 mil reais. Na internet, é permitido que o candidato, partido ou coligação mantenha um site, com endereço eletrônico comunicado à Justiça Eleitoral e hospedado em um provedor brasileiro. Está liberada também a utilização de blogs, redes sociais, sites de mensagens instantâneas e assemelhados, cujo conteúdo seja gerado ou editado por candidatos, partidos, coligações ou de iniciativa de qualquer pessoa natural. O deputado federal Luiz Carlos Heinze (PP), por exemplo, percebeu a importância dessas ferramentas há 11 anos, quando foi criada sua página na internet, onde o eleitor pode acompanhar suas ações políticas. O deputado ainda criou perfil no twitter (serviço de microblog) e, mais recentemente, em uma rede de relacionamentos. De acordo com o assessor parlamentar Cláudio Santa Catarina, as redes sociais servem como um meio de comunicação para se aproximar dos eleitores, divulgar propostas, ideias e compromissos de campanha.
As mensagens eletrônicas enviadas para endereços cadastrados gratuitamente são permitidas, desde que ofereçam a opção de descadastramento ao usuário. Se for solicitado, o pedido deve ser atendido no prazo de 48 horas. Caso contrário, os responsáveis devem pagar multa no valor de cem reais por mensagem. Outra ação permitida é a reprodução exata de página de jornal impresso, mesmo que contenha propaganda paga, até dois dias antes das eleições, desde que respeite os limites previstos para a propaganda eleitoral em impressos. Não observar esses limites sujeita os responsáveis pelos veículos de divulgação, assim como os partidos, coligações ou candidatos beneficiados à multa no valor entre mil e 10 mil reais ou equivalente ao da divulgação da propaganda paga, se este for maior.
Para o publicitário Roger Fraineir, a proibição da propaganda paga é interessante, já que vai obrigar os partidos a se desdobrarem para criar campanhas atrativas ao eleitor.  Ele cita como exemplo uma ação da candidata à presidência, Marina Silva (PV), que realizou uma coletiva exclusiva para blogueiros. “Apesar de o pessoal ter achado ela meio despreparada, elogiaram só pela atitude de procurá-los e de se colocar aberta ao diálogo”, destaca. O publicitário ainda ressalta que a propaganda paga é apenas um complemento à divulgação e acredita que o principal é disseminar a imagem do candidato, o que pode ser feito de diversas maneiras, sem prender-se à publicidade por meios tradicionais.
A propaganda eleitoral em sites de pessoas jurídicas, com ou sem fins lucrativos, também está proibida, assim como a propaganda em sites oficiais ou hospedados por órgãos ou entidades da administração pública da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Ainda estão proibidas a venda de cadastro de endereços eletrônicos e a propaganda eleitoral que atribua indevidamente sua autoria a terceiro, inclusive a candidato, partido ou coligação. É importante ressaltar que qualquer candidato, partido e coligação, assim como o Ministério Público Eleitoral (MPE) podem pedir ao juiz eleitoral que mande remover uma propaganda irregular. É livre a manifestação do pensamento e vedado o anonimato, assegurado o direito de resposta na internet e em outros meios de comunicação interpessoal mediante mensagem eletrônica.
É proibido
- utilização, doação ou cessão de cadastro eletrônico de seus clientes, em favor de candidatos, partidos ou coligações, por
I - entidade ou governo estrangeiro;
II - órgão da administração pública direta e indireta ou fundação mantida com recursos provenientes do Poder Público;
III - concessionário ou permissionário de serviço público;
IV - entidade de direito privado que receba, na condição de beneficiária, contribuição compulsória em virtude de disposição legal;
V - entidade de utilidade pública;
VI - entidade de classe ou sindical
VII - pessoa jurídica sem fins lucrativos que receba recursos do exterior.
VIII - entidades beneficentes e religiosas;
IX - entidades esportivas;
X - organizações não-governamentais que recebam recursos públicos;
XI - organizações da sociedade civil de interesse público.

Sanções

- A violação sujeita o responsável pela divulgação da propaganda e, quando comprovado seu prévio conhecimento, o beneficiário à multa entre cinco mil a 30 mil reais
- Aplicam-se ao provedor de conteúdo e de serviços multimídia que hospeda a divulgação da propaganda eleitoral de candidato, de partido ou de coligação as penalidades previstas nesta resolução, se, no prazo determinado pela Justiça Eleitoral, contado a partir da notificação de decisão sobre a existência de propaganda irregular, não tomar providências para a cessação dessa divulgação
- O provedor de conteúdo ou de serviços multimídia só será considerado responsável pela divulgação da propaganda se a publicação do material for comprovadamente de seu prévio conhecimento, demonstrado _ sem prejuízo dos demais meios de prova _ por meio de cópia de notificação, diretamente encaminhada e entregue pelo interessado ao provedor de internet, na qual deverá constar de forma clara e detalhada a propaganda por ele considerada irregular.

A internet é um meio difícil de ser “vigiado”, mas existem diversas formas de fiscalizar a propaganda eleitoral. De acordo com o MPE, tanto a própria instituição como os cidadãos e os candidatos, partidos e coligações podem ser autores da maior parte das representações na Justiça Eleitoral por irregularidade na campanha. “Desse modo, qualquer cidadão pode entrar em contato com o MP para comunicar o que julgar irregular, informando o maior número possível de dados, como descrição do fato, autor, local e data de ocorrência e, se necessário e possível, envio de link, arquivo de texto, foto, áudio e vídeo”, explica a assessora de comunicação do MPE, Sandra Anflor.
MPE e a fiscalização

Da parte do Ministério Público Eleitoral, há duas instâncias de fiscalização: a Procuradoria Regional Eleitoral, que recebe denúncias por meio de telefone (3216-2172) e de site (www.prers.mpf.gov.br, link Denuncie) e os promotores eleitorais, em cada comarca do estado, que também recebem denúncias por telefone e e-mail (http://www.prers.mpf.gov.br/pdf/promotores_eleitorais.pdf).


Fiscalização do trabalho e da vida política dos candidatos


            Uma boa notícia para os eleitores é que a fiscalização não para na questão da propaganda. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) afirmou que irá divulgar no seu site, a partir de julho, os processos que correm na Justiça contra os candidatos. O eleitor poderá consultar a certidão criminal dos políticos que concorrem à eleição. O ex-deputado estadual e advogado Sérgio Ilha Moreira, classificou como oportuna a decisão do TSE, já que a medida vai divulgar aos cidadãos toda a vida pregressa do candidato. “Vai caber a cada eleitor avaliar se aquele candidato merece ou não o voto dele”, reflete. Um ponto fraco da proposta seria a linguagem jurídica com a qual o eleitor vai se deparar ao acessar as certidões. Porém, o fato de as informações estarem disponíveis à população de forma menos burocrática já pode ser considerado um ponto positivo. Nestes documentos, o eleitor encontrará também a situação atual de todas as ações judiciais e poderá saber em qual etapa do processo se encontram os candidatos.
            Outro recurso acessível aos eleitores através da internet é o projeto “Ficha Limpa”, aprovado em maio deste ano pelo Senado e sancionado no início de junho pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A proposta impede a candidatura de políticos que tiveram condenação criminal por órgão colegiado (mais de um juiz), mesmo que caiba recurso. O “Ficha Limpa”, que ainda estabeleceu oito anos como período de cassação, estará disponível para consulta a partir de julho.
A recente decisão do TSE que determinou a aplicação da lei da Ficha Limpa às eleições deste ano está mobilizando o MPE e a Justiça Eleitoral em todo o país. De acordo com assessora de comunicação do MPE, Sandra Anflor, no Rio Grande do Sul, a Procuradoria Regional Eleitoral já possui lista de gestores públicos condenados pelo Tribunal de Justiça por improbidade (corrupção) administrativa e, ainda, dos gestores públicos cujas contas não foram aprovadas pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) em caráter irrecorrível. Outras listas, com pessoas que se enquadrem nas outras hipóteses de inelegibilidade previstas na Lei da Ficha Limpa, serão obtidas pela procuradoria para auxiliar a análise dos pedidos de registro de candidatura e, se for o caso, subsidiar as ações de impugnação de registro de candidatura.
Nos dias 06/8 e 06/9 deste ano, os partidos, as coligações e os candidatos são obrigados a divulgar na internet relatórios discriminados dos recursos recebidos e dos gastos realizados em suas campanhas. Para o ex-deputado Sérgio Ilha Moreira, apesar de parte da população não ter acesso à internet, aqueles que possuem esse recurso poderão acompanhar efetivamente o volume de gastos de um partido político, “para evitar candidatos que usam fortunas para se elegerem, corrompendo o processo eleitoral”. Já a assessora Sandra Anflor destaca que a consulta frequente aos sites do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) e do TSE, bem como a leitura de jornais, inclusive os especializados em política, é uma boa forma de acompanhar a campanha e a prestação de contas.
Após as eleições, a população ainda pode fiscalizar o trabalho dos políticos através dos sites da Câmara de Deputados, do Senado e dos órgãos do Poder Executivo para os quais foram eleitos seus candidatos, seja a Presidência da República, seja o Governo do Estado. Nessas páginas, o cidadão pode encontrar telefones e e-mails dos gabinetes, assim como canais de ouvidoria.


UM BANQUETE NO LIXO

 
O brasileiro joga fora mais do que consome, é o que aponta a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) através de um estudo realizado no Centro de Agroindústria de Alimentos. O Brasil está entre os dez países que mais desperdiçam alimentos. Cerca de 35% da produção agrícola vai para o lixo, o que daria para alimentar mais de 10 milhões de pessoas. Para a nutricionista e doutora em saúde pública pela USP, Rita Maria Montenegro Goulart, tanto nos países ricos, quanto nos pobres as estatísticas indicam que se o consumo aumenta, igualmente parece aumentar o desperdício.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que nas dez maiores capitais do país, o cidadão consome 35 quilos de alimento ao ano, sendo dois a menos do que o total que joga fora. O que confirma a pesquisa da Embrapa. Diariamente 39 mil toneladas de alimento são jogadas no lixo. Esse desperdício é gerado não somente nas residências, mas também em mercados, feiras, açougues, fábricas e restaurantes.

“O próprio controle de qualidade das indústrias exclui do mercado muitos alimentos que certamente poderiam estar na mesa de qualquer brasileiro”, afirma Goulart. Ao primar pela qualidade de serviço, os restaurantes também acabam jogando refeições no lixo. Isso ocorre porque pela legislação federal os proprietários são responsáveis pela qualidade da alimentação que oferecem, o que inclui a doação. Estes estabelecimentos podem, ainda, responder civil e criminalmente por danos causados por seus produtos. A legislação é muito rígida e grande parte dos estabelecimentos preferem jogar no lixo o excedente, que não é resto, a doar para entidades necessitadas e se responsabilizar por isso.

De acordo com o livro Os bilhões jogados no lixo, do economista Sabetai Calderoni, todo esse desperdício corresponde a 1,4% do PIB brasileiro, ou seja, U$$ 8,4 bilhões são perdidos por ano. “A nutrição tem um papel definitivo na qualidade da saúde da população e a maior concentração de nutrientes está em talos e folhas que naturalmente são desprezados”, lamenta Goulart. Essas partes não-convencionais dos alimentos são capazes de produzir alimentos saudáveis e nutritivos. Com a casca do abacaxi é possível fazer suco, com a da banana um bolo. Basta um pouco de criatividade para diminuir o desperdício. A nutricionista Rita Goulart chama a atenção para a necessidade de se ter campanhas educativas que possam mostrar que é possível aproveitar de forma integral dos alimentos. O Instituto Akatu Pelo consumo consciente acredita que consumir menos não significa comer menos e sim comprar melhor e comer melhor por isso lançou a seguinte campanha “1/3 do que você compra vai direto para o lixo”.

Economia

Planejamento e muito trabalho mantêm estudantes no exterior
 

Aquela história de que ter uma experiência fora do país e falar fluentemente outro idioma ajuda na vida profissional é realmente verdade. Mais do que isso, o intercâmbio é uma oportunidade de realizar-se também no âmbito pessoal. Conhecer outro povo, outra cultura e outra economia ajuda no crescimento do intercambista, mas viver em um ambiente diferente do habitual implica em importantes etapas de adaptação.
A estudante de Jornalismo Bruna Ostermann, 21 anos, admite ter enfrentado dificuldades logo na chegada a Londres, onde está desde o início de abril deste ano. “Pensei que nunca ia conseguir morar em um país onde as pessoas não falam português, mas depois a gente se acostuma, como tudo na vida”, afirma. A estudante gaúcha sabe da importância de aprender a língua inglesa, principalmente em função do seu curso de graduação, e por isso escolheu Londres como destino. Somado a isso, a vontade de assumir responsabilidades como morar sozinha e pagar suas contas, foi fator decisivo na hora de optar pelo intercâmbio. Mesmo com a opção de viajar para a pequena cidade de Dublin, na Irlanda, Ostermann escolheu o desafio da “cidade grande”.
Depois de comparar os prós e contras de cada lugar, vem a fase do planejamento, que deve ser feito com antecedência. Em 2007, o jovem administrador de empresas Filipe Jeffman, 22 anos, que trabalha na área de mercado financeiro, viajou para Sacramento, nos Estados Unidos, onde ficou durante cinco meses. Para a viagem, contou com ajuda de custo da família e, ainda assim, economizou durante um ano. “Se tivesse que pagar tudo por minha conta, precisaria de três ou quatro anos de economia”, destaca. Jeffman optou por um programa de intercâmbio de três meses, que envolvia curso de inglês, hospedagem e três refeições por dia. Após esse período, por mais dois meses, pagou um valor adicional para continuar com o sistema de “homestay” (hospedagem em casa de família) e três refeições diárias. No dia-a-dia, suas despesas envolviam programas de lazer. Mensalmente, o gasto médio para se manter no país era de US$600, o que hoje equivale a R$1074,00, considerando a atual cotação do dólar (ver box). Mesmo com dinheiro guardado, Jeffman procurou emprego durante o intercâmbio. “Tentei conseguir trabalho, mas em função do meu visto, que era de estudante, ficou complicado. E o fato de poder trabalhar só dois meses também atrapalhou”, conta.
Em Londres, a realidade da estudante Bruna Ostermann foi diferente. Em apenas uma semana em terras estrangeiras teve duas oportunidades de emprego. Ambas foram indicadas por brasileiros que já estavam estabilizados no país, o que mostra a importância de contar com a ajuda dos conterrâneos lá fora. Para Ostermann, é impossível se afastar dos brasileiros. “Aqui, eles são como se fossem tua família, principalmente porque o povo dos outros países tem um jeito diferente”, destaca. Nos primeiros dias, a estudante aproveitou para fazer turismo com uma amiga que já estava em Londres e, em um desses passeios, surgiu a primeira oportunidade. “Fomos em um café onde alguns conhecidos da minha amiga trabalham. Logo que fui apresentada a eles, soube da vaga de emprego nesse mesmo café. Alguns dias depois, voltei lá e conheci a gerente. Ela me pediu pra retornar no dia seguinte pra fazer um treinamento”, relata. Logo que chegou, Ostermann também conversou com outra amiga que morava em Londres e foi indicada para uma vaga em um museu da cidade. Ambos os empregos eram “part time”, ou seja, meio turno, já que a estudante frequenta a escola de inglês pela manhã e só pode trabalhar por dez ou vinte horas semanais.
Depois de ter realizado os testes, veio a surpresa: foi chamada para trabalhar no café e no museu. “Botei na balança as duas oportunidades: o museu pagava por hora, mas eu só poderia trabalhar vinte horas por semana. Já no café, apesar de ganhar menos por hora, eu ganharia gorjetas, as chamadas “tips”, e teria comida e bebida de graça, além de ter gostado mais do ambiente”, conta. Com o primeiro salário, conseguiu pagar o aluguel da casa onde mora com mais oito pessoas, e ainda fez compras pessoais. O salário mínimo em Londres é de £5,80 por hora, mas Ostermann ganha uma quantia menor, cinco libras por hora (equivalente a R$13) porque o local onde trabalha não desconta taxas e paga em dinheiro. Nesse valor, não estão incluídas as gorjetas. “Em um dia, ganhei 35 libras em tips, o que foi pouco, porque choveu muito. Em geral, dá pra ganhar até 60 libras”, conta.
O custo de vida em Londres é alto, mas ainda não refletiu na rotina da estudante gaúcha, que atribui isso ao fato de morar sozinha e não ter que sustentar uma família inteira.  “O supermercado aqui é muito barato, as roupas e eletrônicos também. Para viajar de uma cidade a outra e de um país pra outro o valor também é muito acessível. Até comprar um carro é barato, só é difícil mantê-lo. O transporte é bom porque podemos comprar passe por dia, semana ou mês e andar o quanto quiser”. Entre os serviços mais caros está o aluguel: Ostermann paga 75 libras por semana, mesmo dividindo quarto com mais duas pessoas. É importante ressaltar que, assim como no Brasil e em qualquer outro lugar do mundo, o preço do aluguel varia de acordo com a região. “O meu aluguel é um pouco mais caro do que o normal devido à localização. Levo vinte minutos de ônibus até o centro”, ressalta. Tudo isso está sendo mantido com salário e gorjetas. Uma parte desse dinheiro vai para as economias da viagem que Ostermann pretende fazer pela Europa, durante um mês e meio, quando o período do visto acabar.
Já nos Estados Unidos, de acordo com o administrador Filipe Jeffman, todos os serviços são mais caros. “Mandar lavar o carro não sai por menos de U$S 50 dólares. Aqui no Brasil, por R$15 tem boas opções de lavagem”, compara. Jeffman conseguiu um carro emprestado no final da sua viagem para conhecer outros lugares no país. Antes disso, não gastava muito em transportes, já que ia de bicicleta da casa onde morava até a escola de inglês. Para ele, a economia dos Estados Unidos é muito mais focada em serviços, enquanto o Brasil concentra-se em mercadoria. Lá a concorrência é mais forte e existem muito mais empresas. “No geral, os produtos são mais baratos porque são importados da China. Os carros possuem preços muito mais acessíveis pela questão dos impostos”, explica.
Ao final do intercâmbio, muitos jovens organizam viagens para conhecerem outros países ou outras regiões do mesmo país, mostrando que todos vêem na experiência uma oportunidade única. Além de retornarem ao seu país de origem com um idioma mais aperfeiçoado, os estudantes trazem uma grande bagagem profissional e pessoal. O mercado, por sua vez, valoriza a vivência acadêmica e profissional no exterior e leva em consideração aqueles que aceitaram o desafio e as responsabilidades da vida longe do conforto da família e da cultura com a qual estavam acostumados. Os jovens retornam mais preparados para enfrentar o mercado de trabalho e a vida. Por isso, é fundamental a realização de um planejamento pré-viagem e o conhecimento sobre a economia local, a fim de usufruir da melhor forma a experiência no exterior.
 

Cotação do dólar e da libra esterlina

EUA: US$1 = R$1,79
Londres: £1 = R$2,64

Dicionário do intercâmbio

“Part time” – meio turno
“Full time” – turno completo
“Homestay” – hospedagem em casa de família
“Pound” – libra esterlina

Intercâmbio não é só para classes média e alta
Hoje em dia, as agências de intercâmbio possuem vários tipos de programas, que podem ser parcelados. É só escolher o que melhor atende aos seus objetivos e necessidades.

Curiosidade: como os estrangeiros vêem o brasileiro e o Brasil
De acordo com a estudante Bruna Ostermann:
- Acham o povo brasileiro muito amigável e sorridente.
- Todos comentam sobre o Brasil ser penta campeão e falam sobre a Copa do Mundo de 2014, da qual o país vai ser sede.
- Muita gente fala sobre o carnaval.
- Adoram dizer que as mulheres do Brasil são lindas.
“Sempre que eu digo que sou brasileira as pessoas perguntam se sou de São Paulo ou do Rio de Janeiro. Alguns pensam que São Paulo é a capital brasileira”.
A visão dos norte-americanos, de acordo com Filipe Jeffman:
“Eles acham que o Brasil é 90% do território sul-americano. E relacionam o país com futebol e carnaval”.


Por Eliandra Lopes e Tatiana Prisco Nassr